quarta-feira, 30 de abril de 2008


O povo da Barra contra a nefasta construtora

Jolivaldo Freitas

Os moradores das ruas Marques de Caravelas e Lord Cochrane, na Barra Avenida - sou do tempo em que se dividia a Barra em duas e a Graça e a Vitória eram áreas até certo ponto longínquas, imagine! -, estão como o diabo gosta. Andam nos cascos, bufando, trincando os dentes e mostrando os caninos. Esperam apenas que o empresário do ramo da construção civil e conselheiro do Sindicato da Indústria da Construção Civil, mais conhecida pela sigla Sinduscon, decida fazer uma visita ao prédio que está construindo no bairro. A idéia que é sussurrada pelos playgrounds, escadas, saídas de incêndio e nas portarias mais recônditas é de lhe aplicar um corretivo. Nada que machuque.
Apenas uns bons cascudos, ou coques, como dizia minha avó, bem no alto do seu (lá dele) cucuruto; coisa que o pai ou a mãe ou a madrinha deveriam ter feito quando criança, para evitar que se transformasse numa pessoa incivilizada, como se transformou, e que não respeita os mais velhos, conforme desabafo de um ex-combatente da Segunda Grande Guerra, um dos últimos heróis brasileiros de carne e osso, mais osso do que carne, que de trabuco na mão diz que não consegue dormir.
O pessoal odeia o construtor Marcos Galindo, da MGL, porque o homem está construindo um edifício, de nome pomposo de Barra Sky, embora seja um quarto e sala, justamente na esquina das duas ruas. Como os locais, os nativos, os moradores, em sua maioria são idosos que ainda ouvem bem, não conseguem dormir, a antipatia é geral e irrestrita. Ocorre que já às sete horas da manhã os empregados do homem iniciam o trabalho de construção, começa o inferno em sua sucursal.
Primeiro toca-se uma sirene informando que chegou a hora. Neste instante o velhinho, que foi oficial na contenda do meio do século passado, já levanta no susto, achando que é uma blitz dos alemães; um ataque aéreo; e corre para debaixo da cama, usando-a como casamata. Sorte que os filhos toda noite retiram as balas da carabina. O homem ainda é ágil e já cai dando tiros e gritando palavras de ordem.
Mas, ele fica mesmo mais louco que os outros moradores, é quando a britadeira - alguns dizem que é uma máquina de cortar azulejo chamada Maquita - começa a atuar, justamente depois da sirene, por volta das sete horas e cinco da manhã, para dar uma hora exata. Parece uma salva de metralhadora. O ex-soldado se esconde atrás das cortinas do apartamento e fica tentando descobrir de onde vem o inimigo. Nesta hora todo mundo, num raio de 500 metros já acordou.
E assim prossegue a obra. Isso já vindo de quase dois anos, sem que o diretor do sindicato dê o exemplo e respeite pelo menos o silêncio no início da manhã, deixando o povo com um pouco de paz. Mas, os cascudos dele estão garantidos. Inclusive já circulam fotos escaneadas com a cara dele. Uma senhora que mora bem ao lado vai fazer Vudu. Ela ia comprar um apartamento para a filha, mas desistiu. O seu argumento para a desistência é simples: se o empresário não respeita os moradores do bairro, não dá para confiar numa solução, caso o empreendimento seja problemático e o comprador precise de uma atitude séria e profissional. Ela aproveita e pede à Sucom para dar um basta no barulho produzido pela construção do Barra Sky. Que pelo menos comecem os trabalhos às oito horas da manhã, aos sábados. E que encerrem às 17 horas.
Outro dia eles decidiram que iam executar uma série de atos contra os trabalhadores da obra. Descobriram que eles costumam parar para o almoço antes do meio-dia, e depois tiram uma soneca das boas, dormindo sobre estrados, tijolos, tapumes e areia. Iam todos sair para um panelaço na porta da obra. Alguém com lucidez, disse que os operários não tinham culpa, e que seria melhor irem fazer panelaço, numa madrugada qualquer na porta do dono do prédio. Ele que se cuide. Povo da Barra anda catando seu endereço. E o povo da Barra é descendente dos índios bem antes da urbanização da cidade. Eles são tão brabos que comeram assado, e bem passado, um monte de padres, arquitetos e urbanistas portugueses. Para fritar incorporador é só um passo.

______________________________________________________________________

sábado, 26 de abril de 2008


Como os portugueses abduziram os baianos


   Eu sempre fui meio burrinho, não é coisa de agora, e nunca entendi direito essas coisas de descoberta do Brasil. Lembro que certa vez, acho que foi ainda nos tempos em que frequentava a a Escola Luiz Tarquínio, na Boa Viagem ou talvez tenha sido mesmo na banca (que hoje é chamada de reforço escolar), fiquei abestalhado quando a professora disse que o Brasil fora descoberto no dia 22 de abril de mil e quinhentos. Como fora descoberto se eu sabia que aqui tinha índio quando os portugueses chegaram?
  Era uma época em que eu acreditava piamente que Deus criara o homem, portanto não tinha dúvida que Ele, em cada canto, fez uma raça diferente da outra. Para piorar, achava que os portugueses realmente eram raça superior e que os índios, ignorantes, tinham mesmo de ser abduzidos em nome de Jesus, Maria e José e de Dom Manuel, o venturoso.
  Em minha cabeça confusa não entendia como é que os portugueses tinham chegado até aqui, enfrentando um mar cheio de serpentes enormes, dragões que cuspiam fogo e principalmente os monstros marinhos, como grandes polvos e enguias, que engoliam as naus por inteiro e ainda chupavam os tutanos dos argonautas. Levei tantos cascudos da professora Naly, que terminei gostando de estudar História do Brasil. Hoje fico fascinado com as viagens dos descobrimentos e ganhei um amor tão grande pelo tema, que fico frustrado por não ser historiador.
  Talvez por isso eu seja tão apaixonado pelo Porto da Barra. Quando encosto na balaustrada, ando pela calçada ou piso na areia, sinto-me como se estivesse incorporando o espírito dos descobridores. Revejo o donatário Francisco Pereira Coutinho chegando e com seu jeito frouxo e ficar com medo de descer na praia.
  Não sei se você sabe, mas quando ele chegou e viu os índios que esperavam na praia, logo ali naquele canto onde hoje fica o padrão com o brasão da Coroa Portuguesa, bem defronte ao quiosque de artesanato do Instituto Mauá e da barraca de coco de Marco Pólo - por favor não o confunda com o navegador veneziano, que nem parente chega a ser -, começou a se tremer de medo e antes de mais nada fez uma missa dentro do barco, como se estivesse encomendando a própria alma.
  Quem quebrou seu galho foi Caramuru, que já estava por aqui há tanto tempo que tinha mais filho que o pajé ou mesmo o cacique Taparica, o mais temido e o mais político da época. O homem desceu acompanhado dos seus bacamarteiros, cheio de roupa com fru-fru e a garantia de uma armadura. Foi levado sob as espensas de Diogo Alvares Correia (que eu teimava em grafar nas minhas provas de escola como da Silva, e levava mais cascudos), que vem a ser o marido de Catarina Paraguaçu e se picou para se esconder em algum lugar que não faço a menor idéia e se li em algum lugar já esqueci, pois minha memória é melhor quando falo de Tomé de Souza.
  Este, eu sei, chegou aqui em 1549 e com a mesma ajuda de Caramuru, terminou por fundar a cidade de São Salvador e daí passamos a ser responsáveis pela preguiça, pela dança da garrafa, por Carla Perez, pela Axé Music, Pagode, Ricardo Chaves, Esporte Clube Vitória, pela mijada em plena rua, pelo pessoal que invade sinais, por falar alto, buzinar na porta dos hospitais, botar som alto no carro, pelo ônibus parar fora do ponto, isto quando pára; pela falta de empacotador nos supermercados, pelo cara que não dá assento aos idosos nos ônibus, por quem estaciona o carro na vaga de deficientes, e tudo o mais.
  Quando me lembro que num dia de hoje o Brasil foi descoberto, vejo um dia luminoso, depois de uma noite cheia de estrelas. Não sei ao certo a hora em que o Brasil foi visto pelos portugueses, mas, tenho certeza que foi lá por volta das dez horas da manhã, pois foi a hora em que nasci lá em cima do Mont Serrat e o dia era bonito. Interessante é que quando falo em descobrimento, não consigo visualizar direito a chegada a Porto Seguro. Aliás, neste local aportaram depois dos portugueses os espanhóis, ingleses e franceses. Porto Seguro, entretanto, foi totalmente dominada, a partir dos anos 80 do século passado, não pelos colonizadores europeus, sim, pelos mineiros, paulistas e goianos. Hoje, para encontrar um baiano por lá, só se for servindo no balcão ou dançando lambada. Até índio, só se encontra nas feiras de artesanato.
  Por isso que, hoje mesmo, a esta hora, estarei andando no Porto da Barra e olhando para a barra do mar, para ver se enxergo as almas dos navegantes aventureiros. Quem sabe eles redescobrem e começamos do zero. Mesmo assim, com tantos problemas de dengue, esgotos, violência, PT, e pais que matam os filhos, parabéns para você minha "Terra de Santa Cruz".


  
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. e-mail: jfk6@uol.com.br

______________________________________________________________________

domingo, 20 de abril de 2008


Um Carneiro, uma socialite em crise existencial e a PM 2.0

 
 

   Nesta semana que passou apreciei, se assim posso afirmar, cenas, ações, atos e reações no seio desta comunidade provinciana, que foi de arrepiar os cabelos das áreas mais profundas. Depois de sugar a última gota do pote de mel que era a Prefeitura Municipal de Salvador, o PT se mandou, deixando apenas a cabaça vazia. Foi como se nunca tivesse participado da administração ou como se o prefeito jamais tivesse sido apresentado, que dirá comido no mesmo prato. Não que eu seja este tipo de pessoa altamente politizada, mas é que não gosto mesmo de ingratidão. E o PT está igual a menina do mangue que casa com o cliente. A princípio as colegas vibram, achando que ela se deu bem na vida. O marido fica feliz por entender que a retirou daquela vida. Mas, na primeira oportunidade ela cai na gandaia, trai e o seu "salvador" que procure um psicanalista. É da natureza dela.
  O prefeito, que de bobo não tem nada, já está dando o troco. Aproveita que a situação está tétrica, em termos policiais, com quase mil homicídios na Bahia desde, o início do ano – e não é exagero de articulista -, cria a Polícia Municipal, que batizo aqui e agora de PM 2.0, e nos anúncios na televisão deixa claro que está gastando esta grana para dar tranqüilidade ao povo da capital, mas que a responsabilidade em diminuir o índice de violência e garantir a vida do cidadão é do Estado. Não é do alcaide. Quem diria que eu ainda iria testemunhar isso.
  João descobriu que a filosofia do PT é igual àquela fábula onde o elefante encontra a lacraia à beira do rio, com medo de atravessá-lo, e o rio está enchendo. Ele oferece carona para ela e no meio do rio ela o pica. Ele, triste pela ingratidão pergunta por que tinha feito aquilo, justamente com ele que acabara de salvar sua vida. E a peçonhenta responde que é da sua natureza. Não sei o final da história, mas acho que os dois são levados pela correnteza. Seria o mais justo.
  Também presenciei a confirmação daquilo que os mais críticos sempre disseram sobre as socialites. Eles garantiam que se tratava de figuras fúteis, que passam a vida de baile em baile nas casas das mesmas e de vez em quando fazem uma ação social, como visitar creches ou abrigo de velho. Entre um proseco e outro, nos eflúvios do sopro do álcool, bate uma dor na consciência. Pois, não é que me apareceu uma antiga socialite, destas que andam nas colunas sociais todo santo dia, execrando com a figura das socialites e rejeitando o rótulo. Ela não quer ser chamada, nem classificada, nem que a cunhem como socialite. Justamente ela, o perfil cuspido e escarrado.
  Já na área policial/esportiva, o ex-presidente do Vitória, pelo que me disseram, está querendo não sei quantos milhões como direitos trabalhistas pelo tempo que passou atuando no clube e a torcida o aturando e o afundamento. Ele o próprio Titanic. As más-línguas dizem que o clube não tem como pagar justamente por causa da administração dele. Se meteu a mão na cumbuca, aí não posso dizer, nem vou repetir o que a torcida anda espalhando pelas esquinas da cidade e escadas do Barradão. Quem conhece a história garante que a Justiça do Trabalho dando ganho de causa para o Carneiro, o Vitória pode receber de volta quando…deixa lá que nem é bom falar, pois o homem tem um monte de processos nas costas, que vai de racismo a espancamentos de anão, repórter, coxo, ceguinho, vovós indefesas e cachorro morto. Sem falar que é boquirroto. Não vou imiscuir, pois não sou rubro-negro e eles que se aturem. Já basta que no meu time o presidente chegou a ser preso pelos federais.
  Por último, depois de uma semana de surpresas, o presidente Lula, num dos raros momentos de lucidez, dando um descanso ao fígado, disse que é capaz de rejeitar o PT. Eu já rejeitei. Estou em busca de um partido, um político, um novo time de futebol, um bom dermatologista que atenda pelo SUS, uma mãe-de-santo, uma cantora que não seja sapatão. PT não dá pelo que se sabe. DEM, Deus me livre e guarde. PSDB está mais sujo que bilau de porco. PV, pelo menos aqui em Salvador também traiu o prefeito. PP, p.q.p, nem morto. Acho que só me resta um partido monárquico. Quem sabe dom Sebastião ressurge lá no horizonte d o mar, vindo das arábias, para nos salvar destes, destas e de outras.

______________________________________________________________________

quarta-feira, 2 de abril de 2008


Hora de se criar o Bolsa Bandido

Fiquei assustado com o número de mortos neste último final de semana na Bahia. Pelo que soube foram mais de duas dezenas de novas alminhas a caminho do inferno, pois, pelo que a polícia diz, todos eram ligados ao tráfico de drogas e quem sou eu para duvidar do olho clínico dos policiais. Por falar em polícia, um amigo policial civil ligou para mim, que dava plantão na labuta, para me informar que havia mais um corpo desovado sabe-se lá onde. Ele disse: - Com a Polícia Civil em greve, quem está na rua é a Polícia Militar e eles (os bandidos) vão ver com quantos paus se faz uma canoa.

Parei para interpretar a frase. Será que ele queria dizer que Polícia Militar prende ou mata mais que a Civil? Ou queria dizer que PM atua melhor e com mais profissionalismo que a Civil? Quando ia perguntar ele desligou porque havia uma nova informação com mais um morto encontrado sabe-se lá onde e como. Não sei se a Polícia Civil acabou a greve, movida pelo sentimento emocionado da leitura feita nos jornais de ontem, de anúncio mandado publicar pelo governo estadual, dando conta que os agentes estavam para receber aumento em proporções menores aos dos delegados, por terem sido beneficiados ano passado em detrimento dos delegados. Agora era a vez destes.

O cara que sai à luta à cata de bandido e de trocar tiro pelos becos de Sussunga, Valéria e no Rio do Cobre, não quer lá saber se o delegado merece ganhar mais ou ganhar menos e se recebeu aumento maior ou menor que ele. Ele quer o dele, pois farinha pouca meu pirão primeiro, como diz a sabedoria popular. A PM ameaça também entrar em greve. Fazem nova assembléia nas próximas horas ou dias, o que vem a dar no mesmo.
Lembro da última vez em que a PM entrou em greve, no início deste século. Foi um terror digno de filme passado em Nova Iorque. A cidade ficou entregue aos bandidos de todos os quilates e espécies. Um grupo levou numa carreta um caixa eletrônico do Bradesco. Bandidos sitiaram e assaltaram uma Cesta do Povo não lembro onde. Pessoas estavam sendo assaltadas em plena luz dó dia na Pituba. Um grupo de policiais mascarados tentou assaltar o Extra da Rótula do Abacaxi e os seguranças, se não me engano, pois o remédio que tomo para a memória aumentou de preço e estou dividindo as pílulas em quatro pedaços, matou um e o resto fugiu.

Uma cena terrível foi quando uma senhora bastante idosa, com a voz saindo aos fiapos, ligou para uma redação de TV e pediu ajuda, por volta das 2 horas da manhã. Os bandidos haviam rendido o porteiro do edifício onde morava, na ladeira ao lado do Parque da Cidade e estavam arrombando carros e tentando invadir os apartamentos. Sem tem a quem recorrer ligava para as redações. O jeito foram os repórteres improvisarem para tentar pelo menos assustar os bandidos e ajudar a velhinha. Chegaram perto do prédio e ligaram os refletores que levavam no kit. Os ladrões mandaram bala, mas fugiram. E a equipe voltou sem fala. Um voltou para trocar a cueca. Mijou de medo.

Estas cenas voltam à memória neste instante de drama entre governo e policiais, onde quem é penalizada é a população que paga imposto desde a hora que acorda e acende a luz, abre a torneira, passa pasta na escova, come o pão que o diabo amassou, acompanhado de um café ralo, paga Bolsa Família e ainda tem de dar o quinhão para tudo que é tipo de bandido. Taí, o presidente Lula podia criar o Bolsa Bandido. O cara chegava num posto oficial, botava a máscara de ninja, puxava o revólver e dizia: "Entrega a Bolsa Bandido". E o funcionário já pegava a parte que lhe cabia no latifúndio e entregava. Chato é que na saída, com certeza, vinha algum outro bandido sem ética e assaltava o colega. Em seguida aparecia um policial sem ética para fazer uma extorsão e no ato seguinte um grupo de extermínio sem ética para lavar a honra, mas que também seria extorquido e por aí vai. Pior é que não dá nem para fugir para o bucólico interior do Estado. Lá também está um terror. Não viu que o município de Catu é dos mais violentos do país? Só chamando o padre, o bispo e o arcebispo. Suum cuique tribuere.

______________________________________________________________________