sábado, 24 de novembro de 2007


A felicidade...

Sábado, 24 de Novembro de 2007  
A felicidade dos brasileiros e colombianos

   Dona Miloca, acabo de ler nos jornais uma pesquisa dando conta que os colombianos e os brasileiros são os mais felizes cidadãos da América Latina. Onde é que foram buscar estes dados de informação para perfilar a pesquisa é que não sei. Tenho certeza que o cara que fez a pesquisa, passou antes na Colômbia, cheirou alguma coisa que o Diabo gosta e passou a tabular com sua caneta tinteiro. Então deu no que deu, ou seja, o cara estava mesmo doidão.
  Só para a senhora saber, dona Miloca - que é a única a ler minhas tracejantes linhas -, como é que o colombiano pode ser feliz, se boa parte já sofreu misérias por causa da guerrilha que teima em enfrentar o governo? E um governo que teima em matar guerrilheiros. Imagine que outro dia Hugo Chávez, lembra daquele presidente da Venezuela que também parece andar "cheirado"?, apareceu na Europa dizendo que era o representante das Farcs e que queria negociar com Deus e o mundo. Até Álvaro Uribe, presidente colombiano, que não cheira, nem masca - e fica doido do mesmo jeito – disse a Hugo Chávez: "Cala-te".
  Huguinho respondeu cabisbaixo:
   - Magoou, viu!
   Na verdade, não vou esconder a verdade apenas para fazer uma troça com los hermanos cocaleiros, é que uma enquete em mais de 130 países, não lembro exatamente quantos, mostrou que os colombianos se consideram os habitantes mais felizes da América Latina, acima dos brasileiros e venezuelanos. Em uma escala de zero a dez pontos, os entrevistados tinham que apontar a sua percepção sobre bem-estar, conceito que está associado a qualidade de vida e felicidade. Deu na pesquisa que a América Latina é a região mais otimista do mundo, claro que depois do G8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia), a senhora queria o quê dona Miloca.
   Os habitantes mais felizes da região são, pela ordem, Colômbia, Brasil e Venezuela. Os dinamarqueses são os mais felizes do mundo, e os habitantes do Togo (África), os mais pessimistas. Eu pergunto a senhora, dona Miloca, qual o motivo de tanta felicidade dos brasileiros e colombianos. Os colombianos, já falei acima, vivem em guerra civil constante. A violência em Bogotá é das mais terríveis e um amigo que trabalha lá e é federal, foi vítima de sequestro. Dona Miloca, o homem teve de pagar uma boa grana para que soltassem o seu poodle. Isso mesmo, minha senhora. Estão sequestrando cachorros na Colômbia. É uma febre. A senhora não acredita em mim? Mas é verdade...juro....juro por Nossa Senhora do Mont Serrat.
  Os brasileiros têm motivos para tanta felicidade assim? A classe média já pagou este ano 800 bilhões de reais de impostos diretos, indiretos superpostos, em duplicidade, cash ou no varejo. Os aposentados estão sendo roubados pelo governo e pelos bancos. Os políticos estão roubando cada vez mais. A polícia mata cada vez mais e os bandidos matam cada vez demais. Botaram ácido no leite. Botaram bromato no pão. Botaram corante na carne. Tiraram o flúor da água. Fecharam o plantão dos postos de saúde. Acabaram conosco e a pesquisa dá positiva. É coisa de quem cheirou...só pode!
  Lembrei de uma certa feita em que decidi sair viajando, com minha mulher, por todo o país, só de farra e fui parar no meio da noite em Teresina. O porteiro do único hotel decente que havia na capital do Piauí, naqueles longínquos anos 80, meio sonolento nos atendeu e foi travado o seguinte diálogo:
  Eu: "Boa noite"
  Porteiro: - Boa noite.
  Eu: "Pode nos ajudar?"
  Porteiro: - Posso. Vocês são de onde?
  Eu: "Da Bahia".
  Porteiro: - E o que vieram fazer aqui?
   Eu: "Conhecer".
   Porteiro: - Conhecer o quê meu amigo? É melhor pegar a reta e ir prum lugar melhor".
  E passou a indicar outras cidades mais interessantes. Este sim, um brasileiro e piauiense de verdade. Se bem que o Piauí de hoje (fazendo média) está bem legal. Tem muito o que se ver. E o venezuelano dona Miloca? É de dar dó. Tão doidões de cheirar crude e ver o presidente dia e noite na TV. É uma overdose de felicidade esta América Latina. Daí que choro.


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segunda-feira, 19 de novembro de 2007


O “cala boca” que o ditador levou do Rei

Jolivaldo Freitas

 

Caracas! O Rei. Um rei mesmo, destes de verdade. Não estes reis que pululam por aí, tipo Roberto Carlos (da MPB), Pelé (do futebol), Paulo Coelho (dos livros); e muito menos aqueles outros reis, como Fernandinho Beira-mar (dos Tóxicos e Entorpecentes) ou Ray Charles (vixe!... não deu resistir!), levantou-se sobre seus sapatos de verniz e de dedo em riste na cara de Hugo Chavez, nosso, lá neles, histriônico presidente vitalício da Venezuela disse firme, forte, olhando nos olhos: -"Cala-te".

    E o infiel calou e o "caluda" calou forte no peito. Foi durante a Cúpula Ibero-americana de Santiago do Chile. O rei espanhol Juan Carlos I, cuja mulher é um museu em Madrid (o Reina Sofia onde estão as principais obras de Picasso, Miró e Salvador Dali e cujo acervo vale mesmo os 12 euros que se paga para ver), perdeu a paciência quando o amigo e herdeiro de Fidel Castro - que pretende transformar Havana na capital venezuelana - insistia em acusar o ex-chefe de Governo da Espanha José María Aznar, de ter apoiado um golpe de Estado na Venezuela em abril de 2002. Chavez não gosta de golpe.

   O clima ficou péssimo, mesmo com Huguinho tendo o apoio dos amigos Zezinho (Evo Morales, da Bolívia) e Luisinho (Lula, do Brasil). Deu até uma certa peninha (tô que tô) ver que o venezuelano levou um susto e quando tentou responder....é a sua!....seu fio da!...seu...seu! já era tarde, que rei nenhum vai ficar esperando resposta desaforada de um plebéu qualquer.

      O rei Juan Carlos foi saudado como verdadeiro herói pela comunidade monárquica nacional. Não se iluda achando que depois que Dom Pedro se picou do Brasil a monarquia acabou. Não! Nada disso! Como uma cigarra que leva um ano escondida embaixo da terra, se alimentando da seiva e no Verão aparece, canta, explode e se perpetua saindo da casca e depois voltando a se recatar, a monarquia ainda está nas veias. Não somente da família Orleans e Bragança, que se entoca em Petrópolis, lá na aprazível e monáquica serra do Rio de Janeiro.

     Os monarquistas estão espalhados por aí, mas foi no Rio Grande do Sul, que de vez em quando coloca um novo monarquista na Assembléia Legislativa de lá, que as palavras do rei espanhol "cala-te plebéu" cracou mais forte no peito dos seus simpatizantes. Eles dizem que há muito tempo não aparecia um rei tão macho. Macho ao ponto de envergar os costados daquele que tem feito o governo brasileiro rastejar mais que lesmas em busca de proteína, o que convenhamos, é um pouco de exagero: sabemos que Hugo Chavez e Evo Morales têm sacaneado com nosso presidente , Luis Inácio Lula Lelé  (não sei porque invoquei com este negócio de revista em quadrinhos). São todos amigos, mas nós mesmos temos sempre um ou outro amigo que nos sacaneia o tempo todo.

     Nas hostes monárquicas brasileiras, lá mesmo em Porto Alegre, o meu cunhado Marcelo Niederauer que já fez campanha para Fernando, acho sobrenome Bonatti, a presidente da República – e claro que se ganhasse voltaríamos a ser uma monarquia, coisa que, se Lula conseguir mais duas eleições vai transformar o país e passará a se chamar Lula Molusco I – garantia-me certo tempo atrás, que o caminho para a solução dos problemas brasileiros passa pela unção de um rei.

   Em sua opinião o povo brasileiro gosta mesmo é de reis e aí estão Roberto Carlos e Pelé, dentre outros. Lembra que aqueles que querem se mostrar o bambambam do negócio se diz rei do pedaço. Temos "O Rei da Chaparia", "O Rei do Hot Dog", "O Rei da Pamonha", "O Rei da Picanha" e até a "Rainha da Cocada Preta".

    O fato de Juan Carlos I dar uma de macho e mandar Hugo Chavez engolir suas palavras, veio na hora certa para o Partido da Real Democracia. Existe mesmo, acredite. Tem até um site. Com o fato o partido fortaleceu seu congresso que está acontecendo, desde anteontem, e vai até amanhã, no Hotel Braston Augusta, em São Paulo. Agora só falta dom Sebastião surgir no horizonte. "Viva el Rey!", viu meu rei!

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segunda-feira, 12 de novembro de 2007


FREANDO COM AS HAVAIANAS

O que tem de bicicletista nesta Bahia, talvez só perca para Barcelona, que instituiu o veículo como grande alternativa ao trânsito de automóveis, e basta chegar na frente de uma parada de ônibus, pagar 1 euro por meia hora, sair pedalando e deixar a bicicleta no local de destino. A mesma coisa fez agora a cidade de Paris, e foi o que salvou a população que teve de enfrentar uma greve de motoristas e metroviários.
Pois, fui contar, semana passada algumas histórias dos bicicleteiros baianos e choveu um monte. Valcir Barreto mandou email dizendo que acertei quando chamei de bicicleteiro, pois no meio dos pedaleiros é o termo que mais gostam de usar, por ciclista parecer mais com corrida. "Fazemos muito mais do que pedalar. Fazemos quase tudo, inclusive dar uma volta com a irmã do Carrapeta". Vocês lembram que Marcos Carrapeta vendeu a bicicleta e a irmã foi de brinde, né?
Então Gilson Cunha, lá de Santo Amaro lembrou de Claudete (não digo o sobrenome) que por uma volta de bicicleta dos meninos, retribuia com generosas horas de amor. Um monte de meninos acompanhava a moça generosa em suas bicicletadas pelos matos.
A história mais interessante vem de Jerry Conceição. Ele lembrou que eu estava aprendendo a andar de bicicleta, no Alto do Bonfim, quando tirou a mão do selim, onde garantiu que não iria cair, perdi a direção e desci a ladeira - aquela mesma ladeira que os devotos de oxalá sobem de joelhos - enquanto ele gritava aperte o freio. De boa memória, revê, eu sem saber onde ficava o freio, e numa última tentativa de não amassar com a testa os ônibus da Viazul, que passavam no cruzamento, metendo minhas havaianas no asfalto. Uma sandália veio parar na canela. A outra quase derrete com a fricção. Não parei, entrei de peito na Farmácia Nossa Senhora da Guia e ainda ouvi piada dele: "Pelo menos já caiu no mertiolate". E outra piada de mais um amigo: "estas havaianas são boas mesmo, Não é propaganda, não". E eu lá com os olhos arregalados, todo arranhado e o coração aos pulos. Nunca mais montei bicicleta.
Pior fez Angelo Aleluia, que se chamava Angelo - sem acento - porque a mãe olhou para os seus olhinhos azuis e cabelos encaracolados, loirinhos, pois o miserável já nasceu cabeludo e dizem que até pentelhudo e vaticinou que seria um anjo de pessoa. O sobrenome, na verdade era apelido, pois o cara era um diabo, mas na frente de mãe parecia um querubim, falando baixo sim senhora, bênça mãe, beijo vó. E com os vizinhos que o odiavam e nada adiantava contar suas estrepulias para a mãe que ela não acreditava "meu Angelozinho? Nunca que ele faria isso, né meu amorzinho" e ele balançava humildemente a cabeça, sem tirar os olhos do chão "é mesmo mãe!". Pois, com a vizinhança, na presença da velha era um tal de bom dia, como vai a família, boa noite. Na Igreja Batista respondia tudo com um aleluia.
O disgramado roubou a bicicleta de Sansão enquanto este parava na banca de revista para comprar figurinhas da Copa do Mundo, e se mandou. Foi para a Feira do Rolo, lá no Curtume, e trocou a bicicleta por dois canários belgas, bons de briga. Voltando para casa encontrou o dono da bicicleta, um cara forte como o nome deixou deduzir, que disse ou a bicicleta ou a morte. Angelo Aleluia voltou para a Feira do Rolo e não conseguiu desfazer o negócio, mas quando o outro vacilou pegou a bicicleta e saiu pedalando feito louco. Na fuga não viu que estava indo em direção à linha do trem, justamente quando este passava. Só ouviu o apito. Apertou o freio e nada. No desespero meteu o pé nos raios da roda e freou com a cabeça do dedão. Perdeu o dedo, mas escapou das rodas do trem. Só não escapou das porradas que levou de Sansão e do cara que tinha feito negócio. Foi cacete para mais de um hora. Um: por favor é sua vez... O outro: obrigado amigo... sua vez agora.. E o pau comendo no lombo de Angelo Aleluia.

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sexta-feira, 2 de novembro de 2007


VISITANDO OS MORTOS

Acabo de passar umas boas horas olhando os mortos dos outros. Os meus mortos têm muita gente, uma parentalha do tamanho de bloco de Carnaval e acho que muita reza termina por atrapalhar o envio e a compreensão. É algo comparável á nossa empresa de telefonia, que entra em parafuso em datas importantes como Dia de Natal e Ano Novo: Dia das Mães e Dia dos Pais; perde o rumo e congestiona as linhas de uma forma tão avassaladora que você quer falar com alguém em Porto Alegre e termina escutando e enrubescendo com o diálogo atravessado do jovem casal em lua de mel lá em Pirangi e descobre por linhas cruzadas que está chegando uma parada do Paraguai ou que a mulher de alguém vem pulando o muro, lavando pra fora, pintando o sete.    Também imagino que cantilenas em profusão para ajudar o defunto aparentado, cria um certo embaraço de compreensão quando chega aos ouvidos de Santa Rita, Jesus, Santa Maria e Nossa Senhora Aparecida ou Frei Galvão: aqueles que são os mais procurados no ranking e que têm mais Ibope na hora de se solicitar um adjutório. Todo mundo falando ao mesmo tempo, uns nas igrejas, outros nos templos, alguns misturando umbanda, quimbanda, candomblé, cartomancia, astrologia, budismo, bozó, despacho, água-benta, exorcismo e tudo o que o medo misturado com a insegurança humana vicejou. Uns aqui e outros acolá, a depender do Hard Disc, da memória e da capacidade de processamento e absorção do santo ou da santa pode dar um tremendo Tilt. Um bug the bug. E termina por prejudicar o morto ao invés de garantir aquele favorzinho que se almeja.    Olhar os mortos dos outros significa transitar por grandes, imensos jazigos perpétuos de famílias que eram para perpetuarem-se e hoje não passam de nomes escritos a bronze ou aço nos também frios mármores dos cemitérios. Ali está uma construção que remete à Torre de Pizza e deduzo que era algum italiano ou alguém que gostava tanto do monumento que deixou em testamento o que queria como morada eterna. Lá do outro lado está um panteon. Um mais simplório decidiu antes de morrer ou a família determinara depois do morto, que fosse em formato de uma igreja mourisca e provavelmente era de alguém que nasceu longe. Decidi não confirmar que a imaginação é mais gloriosa e gratificante, pois pode ser também o mausoléu de algum maluco ou mesmo de um admirador da arte mourisca. Passo então por uma construção que parece um palácio e pertence a uma defunta. Fico a imaginar a beleza e a imponência de, em vida, daquela que estava agora sepultada. Só podia ser mesmo uma rainha, ou ninguém gastaria aquela fortuna em mármore de duas cores, talvez de Carrara, para lembrar pra sempre. Tem também um obelisco.    E termino por estar numa área em que quase piso numas covas cobertas. Barro, cruzes simples, flores murchas misturadas com jasmins e copos-de-leite comprados recentemente na floricultura da entrada do cemitério. Alguns têm velas acesas, outros nem isso. Uma divisão de classe na morte, como em vida e não venham me dizer que é melhor estar sob sete palmos de terra sob o sol latejante que no frescor do granito lavrado. Ouço alguém comentar que o Campo Santo não tem mais vaga. Os mortos precisam de pistolão para serem enterrados. Depois de dois anos as covas rasas são abertas e sai um lote de ossos para dar vazão a um corpo que chega.

    Pelas vielas e azáleas vejo pessoas contritas, falando baixo, lenços brancos ou negros nas cabeças das mulheres mais velhas: antigas viúvas. Roupas coloridas nos jovens que calçam tênis de marca e ouvem rock plugado num iPod. Relaxo. Os jovens estão certos em dar cor e contraste ao lúgubre. Meninos negros e mulatos, descalços, calções quase caindo da bunda e sem camisas passam lépidos atrás de uma arraia que deu um aú, foi cortada por outra em pleno ar e sai arrastando a linha temperada entre as sepulturas. Garotos não respeitam nada; nem os mortos. Crianças são cruelmente sinceras.

 

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