sexta-feira, 17 de novembro de 2006


MEU PRIMEIRO POST

omente a velharia, como a Igreja Católica Apostólica e Romana não gostou de padre Pinto com maquiagem e fazendo a festa ficar renovada na Lapinha.
Um festejo decadente que serve apenas para uma parcela da juventude local ir tomar uma biritas nas barracas. Sequer esta gente liga, ou se lembra de dar o primeiro gole para o santo, pois até este ritual caiu em desuso na Bahia.
Achei padre Pinto um entusiasta. Um padre que quer renovação para o decrépito comportamento da Igreja. Sem querer fazer, mas fazendo um trocadilho, padre Pinto estava tão à vontade, tem tanto amor pelo que faz, que parecia na Festa dos Reis Magos um pinto no lixo.Muito boa sua atuação, e dom Geraldo Magella diz que foi piração e mandou o homem para o psiquiatra, como ator. Ele verdadeiramente entrou em transe quando incorporou Oxum – e olha que dançou direitinho e estava tão bonito que o orixá baixou. Quando fez a homenagem aos pajés, parecia até que tinha tomado Santo Daime ou cauim. Um primor. Desde que me conheço como gente que não vejo uma Lapinha tão animada e não venha você me dizer que o padre estava parecendo drag queen, pois isto é o menos relevante. Importante é ver que a Igreja Católica passa mesmo por uma crise sem precedentes. Tudo que é novo, cria polêmica ou atrai fiéis, ela rejeita. Suas lideranças parecem querer destruir de vez com a instituição.
Vejamos:
padre Marcelo, aquele que vende milhares de discos recebeu reprimenda até do Vaticano. Queria calar o moço que cantava seus louvores a Deus. Dom Gilio, que buscou caminhos de integração para chamar a comunidade afro-descendente para suas hostes, foi jogado ao léu, mandado para os confins da Bahia – ele que veio do Rio Grande do Sul onde já era um problema por causa de suas idéias liberais, negro que é, e nem sei por onde anda.
Lembro de um caso de amor da comunidade por seu ministro. Nos anos 60 do século passado havia um padre na Igreja da Boa Viagem (acho que o nome dele era Hugo Rossi ou Rossini, algo assim) que era adorado pelos jovens e repudiado pelos mais velhos. Ele bebia, fumava, tomava banho de mar de calção, numa época em que padre não tirava o hábito nem pra ir a banheiro, jogava futebol, comia bem descaradamente e dizem as más línguas, ainda dava uma paquerada, pois ninguém é de ferro e até Jesus namorou e dizem alguns historiadores que casou e teve filhos. Pois não é que o padre foi mandado de volta para a Itália, de onde viera? Toda minha turma de coroinha, a partir daí, decidiu dar um basta. Fomos embora. Igreja nunca mais. Acabaram com nosso ídolo que sentava conosco depois da missa para um papo (falávamos de Deus, sim senhora) e um violão.
O que a Igreja gosta mesmo é dos poderosos. Sempre foi assim. Sempre uma simbiose com os coronéis, com os políticos, com quem oferecia benesses e boa mesa. Por ver na Igreja Católica um fausto portentoso, um falso falar macio e uma total sinergia com Deus é que o povão faz hoje da Igreja Evangélica um caminho e tome esta Igreja crescer, mesmo se sabendo que se trata também de mera exploração da fé.
O que a Igreja Católica (que um amigo filósofo trata de Igreja Caótica) gosta mesmo, é de um papa que manda os seus seguidores ao risco de pegar Aids e não respeita as diferenças sexuais tratando os homossexuais como cidadãos e fiéis de segunda classe. Ou gosta mesmo de bispos e arcebispos que passam esmalte incolor e fazem as cutículas e andam com seus clergimans impecáveis, como se fossem galãs de Hollywood, nas áreas onde o povo anda de chinelo e sapato furado. Ou que são retrógrados quando preferem ver seus acólitos penando pela morte ou sofrimento de parentes ao uso da terapia das células-tronco.
Este negócio de querer rotular as pessoas de enlouquecidos, quando atrapalham seus interesses, incomodam por suas posições políticas, comportamentais ou filosóficas é típico da Igreja Católica. Não vamos nem falar em Galileu. Vamos mais perto. Quando dom Avelar Brandão Vilela era vivo, ele teve um arranca-rabo com um jornalista da Tribuna da Bahia e enviou uma carta para o editor-chefe recomendando que internasse o rapaz, pois este deveria estar com esgotamento nervoso. O editor, que era o escritor João Ubaldo Ribeiro, escreveu um artigo que encerrava assim: “O senhor cuida do seu rebanho que cuido do meu!”.
Pois, quero padre Pinto.
Quero dom Gílio.
Quero padre Hugo.
Quero aquele padre que fez greve de fome contra a transposição do São Francisco e que esqueci o nome.
Quero frei Beto.
Quero Leonardo Boff.
Quero dom Jerônimo.
Quero Gregório de Mattos e Guerra.
Quero que Deus castigue os obscurantistas.

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O MESMO QUE ZIDANE

ane-se o mundo. Para Zidane dar uma cabeçada daquelas, num final de uma Copa do Mundo, coisa que poderia melar para sempre sua imagem como craque equilibrado, só mesmo ouvindo o que não queria. Ao contrário do que os críticos disseram e os jornais publicaram apenas porque estão com raiva dele por ter jogado maravilhosamente contra o Brasil * deu de calcanhar, mandou chapéu, driblou e fez o que quis com nossos jogadores * Zidane fez certo. Tem horas que boa educação e boa índole nada valem. Tem de dar porrada mesmo. E conhecendo os italianos como conheço, tinha de dar chute nas partes baixas e comer as orelhas. Pode observar nos noticiários dos jornais que de cada ocorrência nas delegacias envolvendo estrangeiros, setenta por cento tem a presença de italianos. Os caras são complicados.
Enquanto argentino torra o saco achando que são melhores, mais bem educados, mais ricos e mais bonitos e que ainda jogam barbaridade mais que nós, os italianos chegam como quem não quer nada.
Como estão cheios de euros, mesmo a maioria sendo formada por taxistas romanos, trabalhadores da Fiat ou donos de botecos na Piazza Auxiliatrice, encostam nos portos e aeroportos baianos e vão logo querendo saber onde conseguir meninas novas e de preferência mulatas e onde tem apartamento barato para comprar, de preferência na Orla. Alguns partem para visitar Morro de São Paulo e Porto Seguro e fincam o pé por lá. Como são turistas de baixo estrato social e educacional, mesmo para os padrões europeus, terminam por se envolver em casos, algumas vezes bizarro. Conheço algumas histórias, como a de um italiano que mora colado a uma delegacia, num dos bairros de Salvador e que partiu para pegar a empregada dentro da delegacia, na maior ousadia, depois que ela foi dar queixa de abuso e de ameaça de morte. O cara foi preso e como era estrangeiro logo libertado e o advogado que foi liberar o danado ainda ouviu esbregue por ter demorado.
Outro chegou como turista, engravidou uma garota de 14 anos e ao invés de ir preso conseguiu casar com a garota pobre do subúrbio e ainda ganhou direito à morar por aqui. Comprou uma cobertura grande num bairro conhecido da Orla Marítima e para desespero dos outros moradores fez uma obra transformando a cobertura numa pensão para italianos que ele recepciona em Salvador. No lugar da cobertura ele montou cinco pequenos apartamentos. A polícia nem o síndico podem fazer alguma coisa, pois embora saibam que as pessoas que vão lá são hóspedes, ele diz que são convidados. As porradas que acontecem em Porto Seguro e boa parte das ações da Polícia Federal, envolvem italianos que se escondem nas praias, montam pousadas, restaurantes, barracas de praia. Como os caras conseguem ficar por aqui é um mistério.Outro dia uma família estava atrás de um motorista de ônibus italiano que estava fora do seu país há mais de três anos. Cataram, cataram e o acharam como próspero comerciante em Eunápolis. Deu trabalho repatriar o cara. Isso se ele já não deu um jeito de voltar por Foz de Iguaçu.Mas também, para não ser injusto, tenho de reconhecer que por seus envolvimentos com prostitutas, muitos italianos sofrem na Bahia. Lembra do caso de um deles que ano passado levou para o apartamento uma linda morena, que na verdade era linda mas não era morena, era moreno? O traveca aplicou-lhe um reconfortante “Boa noite Cinderela” com tanta pílula para dormir que o homem dormiu três dias. Quando acordou tinham levado tudo da sua casa. Pior é que cada italiano que vem e volta, pelas facilidades que encontra, manda mais um monte. E haja problema.
Zidane me lembrou que devo dar uma marrada num vizinho italiano porcalhão, chato e barulhento. Chega de aceitar provocações destes mafiosos. E minha vizinha ainda o defende, dizendo que ele é um chato, mas “é tão bonitinho...tem um nariz de ator de cinema...bundinha durinha e um sotaque de arrepiar”.

Acho que vou dar uma porrada nela também.

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O COTÓ, A MOÇA DO BACALHAU e a CEGA

imagens me impressionaram nos últimos dias.
A do pescador que mesmo sem braço conseguia pescar de bomba acendendo o pavio com a boca e dando chute na dita cuja para atingir os cardumes. Fiquei pensando que o cara é um herói, embora a Polícia Federal e o Ibama o tratem como bandido. Também pensei que o cara é corajoso, pois se a bomba explodir na hora do chute a la Roberto Carlos ele perde os pés. Fica sem as mãos e sem os pés. Vai acender o pavio com o quê? Não responda, viu seu desbocado! Explico porque acho o cara um herói.
Para um homem ser pescador profissional artesanal, sem a logística, os equipamentos de última geração e o acesso do seu produto ao mercado, como contam os pescadores japoneses, coreanos, portugueses, espanhóis e os da Europa Oriental e que ainda têm suas traineiras e navios subsidiados pelos respectivos governos, é que não contou com apoio de ninguém para poder estudar e melhorar de vida. Sair da vidinha que levava o seu pai, seu avô e que deixaram como legado para sobrevivência. Com certeza ele não optou ser pescador de bomba - sabendo do perigo que representa acender e arremessar dinamite, já que o acidente de trabalho tem como conseqüência perda de membros e ninguém gosta de correr risco. Foi o destino e foram as autoridades governamentais que não deram outros caminhos. Não deram estudo. Não deram apoio social. Não deram salários dignos. Não deram remédio nos postos. Não deram direito à moradia. Não deram direito à Justiça. O que fazer para alimentar a família? Pescar de bomba, lógico, pois em menos tempo pega-se mais peixe e a renda aumenta para os barrigudinhos que esperam à mesa, que também seguem os passos do pai e sofrem o descaso oficial.
A pergunta nada hipócrita que pode ser feita é se a vida humana é inferior ao ecossistema marinho. Quem é prioritário para a morte? O homem por inanição ou os corais bombardeados? Existe, sim, uma coisa chamada cadeia alimentar. Quem está no topo muitas das vezes não tem muito a escolher. Que me perdoem os siris, as pititingas e os plânctons.

Outra imagem que me chamou a atenção foi a das duas mulheres presas quando roubavam bacalhau num supermercado. Elas chegaram, disfarçaram, pegaram o bacalhau e enfiaram embaixo das pernas, lá onde o bacalhau é mal lavado. Saíram andando numa boa mas os seguranças desconfiaram. Um repórter perguntou o motivo de terem roubado o peixe. Elas disseram que era preciso ter alguma coisa para a Sexta-feira Santa das crianças. Não tinham dinheiro e não queriam frustrar os filhos. O repórter perguntou porque roubar especificamente bacalhau, quando poderiam levar outro tipo de peixe. Disseram que as crianças, de tanto ouvirem falar nas TVs e verem receitas de bacalhau queriam porque queriam comer bacalhau. E lá foram elas, mulheres paupérrimas que até para comprar pão é dia sim, dia não, querendo oferecer o que havia de melhor para a ceia da Sexta da Paixão. Nem Deus ajudou. Foram presas e os meninos ficaram sem bacalhau.
Num país de mensalão estas mulheres merecem ou não a prisão? Responda você.

Já a cega, êta cega danada de sábia. Ela estava pedindo dinheiro na Avenida Sete e um homem saindo da agência do Banco do Brasil deu-lhe duas notas de cinqüenta reais, dizendo que ela saísse da chuva e fosse embora. O homem, sabendo-a cega, disse o valor que estava dando e pediu para guardar bem as notas.
O que ela fez? Devolveu uma nota dizendo que era muito e que mesmo cinqüenta reais ainda era demais. Estava acostumada a ter apenas um pouco a cada dia. O repórter de uma rádio estava por coincidência junto na hora e perguntou à mulher porque não ficou com o dinheiro todo e gastava um pouco a cada dia. Ela na maior singeleza disse que nunca tinha ganho tanto dinheiro na vida e que muito dinheiro pode trazer infelicidade.
Falar o quê meu rei?

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