domingo, 26 de outubro de 2008


Domingo, 26 de Outubro de 2008  
Campanha política é coisa pra macho

   Estou gostando demais das campanhas para o Segundo Turno em Salvador. João Henrique, que foi vitimado, apunhalado e traído por tudo que é partido, está saindo melhor que a encomenda. Pela primeira vez o vi esbravejando e botando o dedo na cara do adversário. Olha que conheço o homem e nunca presenciei levantar a voz. Nem mesmo quando a mulher exagerava nas ações políticas e prejudicava sua atuação. Só se ouvia dele:
  - Ê! Se aquieta, mulher.
  Nem mesmo quando o PT atrapalhou a área da Saúde, gerando problemas e mais problemas para seu governo, se ouviu esbravejar. Apenas:
  - Ê! Não vai dar certo, viu mulher?
  Mas, agora, não. Ele incorporou direitinho o papel que lhe cabe e está batendo firme e forte, para todos os lados. Dá jab de esquerda, aú, chute nos eggs, pisa na unha encravada e ainda enfia o dedo no olho e dedada no toba.
  Já Walter Pinheiro, que conheço pouco, mas tenho amigos que o conhece muito, segundo eles, nunca elevou a voz, nem mesmo nos discursos durante sua militância sindical. Um cara afável, ouvidor. De repente está ele lá, na televisão, denunciando, desqualificando e fazendo um papel interessante de algoz de João, depois de ter mandado para escanteio Imbassahy e Hilton Coelho, representante da esquerda mais radical que pum de feijoada dormida. O que me chamou a atenção foi ver que o candidato petista melhorou em muito a dicção. Parece estar usando Corega. Beleza e chama mais a atenção o seu poder de contração das frases, pois sempre foi tido como prolixo. Também tem demonstrado um preparo surpreendente e acho que em termos de oratória ele só perde mesmo – em se tratando de PT – para Marta Suplicy, esta que consegue fazer com que uma tempestade vire um fator positivo para quem não tem capa ou guarda-chuva.
   João Henrique nunca foi de falar muito, pois não precisou convencer nenhuma militância ou se manter na crista da onda entre os seus pares. Valter Pinheiro, sempre esteve com os cães nos calcanhares, uma vez que a esquerda é assim mesmo: bobeou é degolado e outro já assume e passa por cima. Não se pode é perder o poder adquirido a ferro e foice. É bom ver os candidatos fazendo direitinho o dever de casa elaborado por Sidônio e Maurício Carvalho. Sem marketing não há tesão, nem solução.
  O mais interessante, entretanto, são as histórias por trás dos vices de cada um dos candidatos, estes esquecidos e injustiçados na hora do voto. Pena que eles não tenham direito a um programa só deles. Acho que a Justiça Eleitoral poderia criar um Horário Político Alternativo, ou seja, teríamos o programa majoritário, o proporcional e o dos vices. Pouco importava quem seria o prefeito e o partido. O vice iria pedir voto para ele mesmo e quem ganhasse colava com o prefeito. Quem sabe o que essa maluquice iria dar.
  Mas, falando em histórias dos vices, todo mundo lembra que Lídice, do PT, comeu o pão que o diabo amassou nas mãos de ACM e a cidade parecia que foi devastada por um furacão. Lídice ganhou cabelos brancos. Já o vice de João Henrique, o professor Edvaldo Brito (pai de Antonio Brito, que vai terminar saindo vereador), foi indicado para administrar a cidade e fez direitinho. Mas, de outra feita, com eleições diretas, saiu candidato e perdeu.
  A frase que caracterizou o período foi aquela que o pessoal de grupos anarquistas (que defendiam os votos nulos ou brancos) escreveu pelas paredes e até hoje não se sabe quem foi o autor. O verbo desencantado desqualificava a campanha, que era voltada para a maioria negra, uma vez que Edvaldo tinha tudo para ser um legítimo representante dos negros baianos, embora fosse considerado elitista. A frase anárquica multiplicada pelos muros da cidade na calada da noite era: "Preto não vota em preto.Vota em branco". Um puto duplo sentido. E Edvaldo Brito perdeu a eleição, mesmo com 70 por cento da população de Salvador sendo de negros. Coisas da Bahia.


  
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista

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