Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2009 | Tô indo mijar
Meninos, eu vi, juro. Estava lá sentado, fazia duas horas de relógio e presenciei. Eu já tinha ouvido falar que conseguir atendimento em empresas que fornecem serviço de celular era esparro dos brabos, como se dizia antigamente aqui na Bahia. Sempre achei que era queixume exagerado, coisa de quem nada tinha para fazer; fofoca de pessoas que queriam macular a imagem das empresas da área, grandes grupos estrangeiros que vieram para nos dar tranquilidade, modernidade e conforto. Eu dizia: aquieta! Não está vendo o exagero. Foi então que minha filha perdeu o chip do celular e apesar de tudo, de todas as ações de segurança que estas grandiosas e inestimáveis empresas oferecem, recebo uma conta de telefone móvel de infartar cardiologista. Como não era possível uma coisa destas, decidi ir em busca de uma justificativa com uma das maravilhosas, globalizadas e pós-modernas empresas de telefonia. Tinha a certeza absoluta que seria atendido com presteza, agilidade e educação pelas recepcionistas, pessoas treinadas, qualificadas e requalificadas, coisa de ISO 20 mil. Seria a minha chance de jogar na cara destas pessoas fofoqueiras, maledicentes e negativistas que falam mal da Claro, da Oi, da TIM, da Telemar, da Telefônica e de tantas outras, que eu estava certo em defendê-las como fator de desenvolvimento, modernidade e evolução para o país e que qualquer crítica era vil. Cheguei com todo gás, animação e confiança na loja própria da TIM no Shopping Iguatemi. Alvissaras! Fui atendido logo na entrada por uma jovem recepcionista que me perguntou qual o assunto que tinha me levado lá e eu o dizendo, fui logo levado para uma fila. Expliquei a outra moça, no computador, que me ouviu com atenção e esmero, e contei e recontei meu caso e ela com toda autoridade disse para a outra: - Abra o protocolo! Meninos era tudo o que eu queria o uvir. Foi rápido, educado, civilizado e objetivo. Peguei o número da senha: 8. Sentei na sala de espera e olhei ao redor. Eram muitas pessoas e apenas três funcionários atendendo. Pensei: lógico que estes funcionários são velozes, adestrados e rápidos no teclado. Relaxei. Relaxei tanto que adormeci. Acordei. Adormeci. Acordei. Acho que ronquei, pois levei uma cutucada de uma moça. Despertei e notei que toda aquela multidão que estava lá, e que chegou depois de mim já tinha sido atendida. Pois, mais de duas horas depois pergunto se tinha chegado minha vez e a moça, muito educado, quero observar, me disse que eu ainda tinha muito que esperar. Perguntei o motivo, pois tinha chegado cedo e não fora atendido. Ela me disse que era assim mesmo. Como eu estava indo contestar uma conta, minha senha passara a pertencer a um segmento de atendimento classificado como "outros". Isso significava que quem chegasse para comprar aparelho, trocar de aparelho, pedir i nformação de aparelho ou trocar número de aparelho, tinha prioridade. O que significava dizer que no caso - no meu caso que era contestar uma conta - somente seria atendido naquele mesmo dia com a ajuda de Deus e da Virgem Maria. Fiquei quieto esperando, com calma e observando. Foi então que notei que cada um dos atendentes que vendiam, anotavam, interagiam com os clientes - e eu esperando e a moça me dizendo que o sistema era assim mesmo e que era uma forma da empresa desestimular queixas - cada vez que acabava um atendimento saía, demorava e voltava. Outro fazia a mesma coisa. Comentei com o feliz proprietário da senha 9 que aquilo era estranho e ele me disse que era assim mesmo. Já tinha três dias que ia lá e que a cada atendimento o atendente ou a atendente ia tirar a água do joelho.Dar uma mijadinha básica. Ele me disse que TIM significava: Tô Indo Mijar. E eu não sabia. E pediu para que tivesse paciência. Tive. Só me irritei quando vi que eles mijavam o tempo todo, mas não lavavam as mãos. Aí também é demais.
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. e-mail: jolivaldo.freitas@yahoo.com.br | | |
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