quarta-feira, 2 de abril de 2008


Hora de se criar o Bolsa Bandido

Fiquei assustado com o número de mortos neste último final de semana na Bahia. Pelo que soube foram mais de duas dezenas de novas alminhas a caminho do inferno, pois, pelo que a polícia diz, todos eram ligados ao tráfico de drogas e quem sou eu para duvidar do olho clínico dos policiais. Por falar em polícia, um amigo policial civil ligou para mim, que dava plantão na labuta, para me informar que havia mais um corpo desovado sabe-se lá onde. Ele disse: - Com a Polícia Civil em greve, quem está na rua é a Polícia Militar e eles (os bandidos) vão ver com quantos paus se faz uma canoa.

Parei para interpretar a frase. Será que ele queria dizer que Polícia Militar prende ou mata mais que a Civil? Ou queria dizer que PM atua melhor e com mais profissionalismo que a Civil? Quando ia perguntar ele desligou porque havia uma nova informação com mais um morto encontrado sabe-se lá onde e como. Não sei se a Polícia Civil acabou a greve, movida pelo sentimento emocionado da leitura feita nos jornais de ontem, de anúncio mandado publicar pelo governo estadual, dando conta que os agentes estavam para receber aumento em proporções menores aos dos delegados, por terem sido beneficiados ano passado em detrimento dos delegados. Agora era a vez destes.

O cara que sai à luta à cata de bandido e de trocar tiro pelos becos de Sussunga, Valéria e no Rio do Cobre, não quer lá saber se o delegado merece ganhar mais ou ganhar menos e se recebeu aumento maior ou menor que ele. Ele quer o dele, pois farinha pouca meu pirão primeiro, como diz a sabedoria popular. A PM ameaça também entrar em greve. Fazem nova assembléia nas próximas horas ou dias, o que vem a dar no mesmo.
Lembro da última vez em que a PM entrou em greve, no início deste século. Foi um terror digno de filme passado em Nova Iorque. A cidade ficou entregue aos bandidos de todos os quilates e espécies. Um grupo levou numa carreta um caixa eletrônico do Bradesco. Bandidos sitiaram e assaltaram uma Cesta do Povo não lembro onde. Pessoas estavam sendo assaltadas em plena luz dó dia na Pituba. Um grupo de policiais mascarados tentou assaltar o Extra da Rótula do Abacaxi e os seguranças, se não me engano, pois o remédio que tomo para a memória aumentou de preço e estou dividindo as pílulas em quatro pedaços, matou um e o resto fugiu.

Uma cena terrível foi quando uma senhora bastante idosa, com a voz saindo aos fiapos, ligou para uma redação de TV e pediu ajuda, por volta das 2 horas da manhã. Os bandidos haviam rendido o porteiro do edifício onde morava, na ladeira ao lado do Parque da Cidade e estavam arrombando carros e tentando invadir os apartamentos. Sem tem a quem recorrer ligava para as redações. O jeito foram os repórteres improvisarem para tentar pelo menos assustar os bandidos e ajudar a velhinha. Chegaram perto do prédio e ligaram os refletores que levavam no kit. Os ladrões mandaram bala, mas fugiram. E a equipe voltou sem fala. Um voltou para trocar a cueca. Mijou de medo.

Estas cenas voltam à memória neste instante de drama entre governo e policiais, onde quem é penalizada é a população que paga imposto desde a hora que acorda e acende a luz, abre a torneira, passa pasta na escova, come o pão que o diabo amassou, acompanhado de um café ralo, paga Bolsa Família e ainda tem de dar o quinhão para tudo que é tipo de bandido. Taí, o presidente Lula podia criar o Bolsa Bandido. O cara chegava num posto oficial, botava a máscara de ninja, puxava o revólver e dizia: "Entrega a Bolsa Bandido". E o funcionário já pegava a parte que lhe cabia no latifúndio e entregava. Chato é que na saída, com certeza, vinha algum outro bandido sem ética e assaltava o colega. Em seguida aparecia um policial sem ética para fazer uma extorsão e no ato seguinte um grupo de extermínio sem ética para lavar a honra, mas que também seria extorquido e por aí vai. Pior é que não dá nem para fugir para o bucólico interior do Estado. Lá também está um terror. Não viu que o município de Catu é dos mais violentos do país? Só chamando o padre, o bispo e o arcebispo. Suum cuique tribuere.

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