O xerife, o golpe, a calçola perdida e a vidente que foi presa Jolivaldo Freitas A Bahia tem coisa de dar arrepio. E acontece cada fato comigo que às vezes penso que tenho parte com o demônio. Várias semanas antes de acontecer mais um crime na Ilha de Itaparica, onde mataram o velejador e que levou dezenas de argonautas a um protesto inusitado na Baía de Todos os Santos, domingo passado, um amigo meu que tem um veleiro de nome Asbar, planejava levar um convidado holandês para a Ilha de Itaparica. Eu, no instinto, lhe disse que evitasse, que o lugar estava infestado de marginais. Ele apenas deu uma passada por lá e se picou, deu ninja, escafadeu-se. O francês foi morto e meu amigo ligou me agradecendo o insight. Vixe! Me benzi todo. Interessante é que antes desta história, quando ninguém lembrava do delegado José Magalhães - talvez o leitor ou leitora se lembre - escrevi aqui nesta coluna, pergunt ando se alguém sabia onde o homem foi parar. Onde ele estava depois de ter sido defenestrado da titularidade da delegacia do Rio Vermelho. Lembrei até, das histórias que eram comentadas, dando conta de que quando ele saia da delegacia para ir ao Vale das Pedrinhas ou Nordeste de Amaralina, os bandidos se escondiam nos tanques de água, os mais desesperados dormiam nos bueiros, muitos se vestiam de mulher para fugir para o interior do estado e quem bobeasse iria dormir para sempre. Daí lembrei que o homem era o terror dos organismos de Direitos Humanos e que havia caído em desgraçada por causa dos seus métodos. Mas, não é que de repente, na onda da Ilha de Itaparica ele ressurge das cinzas. Vixe! Me benzi todo de novo. O pior é que agora faço avaliação do discurso do delegado, que como xerife e herói da população ilhéus e chego à seguinte conclusão: vai faltar Hora Marcada para trazer os defuntos e não vai ter lancha suficiente em Mar Grande, par a dar vazão aos bandidos que começam a mudar de endereço. E, acredite, vai diminuir o número de roubos e assaltos em Itaparica, mas vai aumentar, em muito, a violência em Salvador. Os bandidos só vão mudar de endereço. O modus operandi será o mesmo. Falar em malandragem, tem bar na praça do Porto da Barra onde os turistas sofrem um novo tipo de golpe. Todos os garçons vestem camisa branca e calça preta e outros detalhes iguais. O turista pede a conta e ali mesmo, na hora, é dada. O garçom recebe o dinheiro e some. Depois de algum tempo o cliente pede o troco, mas já é outro garçom que vem e diz que no caixa não consta seu pagamento. Ou, no caso em que o cliente paga a conta certa e sai, um garçom vai atrás e exige de novo o pagamento. Como ninguém vai ficar encarando garçom - a não ser que seja muito curioso ou viado ou o garçom seja Tom Cruise -, o dono do restaurante chama todos e coloca na frente do turista que não sabe quem foi. Tem de pagar de novo. Mas, o Porto da Barra é pródigo em histórias. Semana passada uma mulher, sem a menor cerimônia, voltou já escurecendo para as proximidades do Forte de Santa Maria e começou a perguntar se alguém tinha achado uma calçola. Ela estava tomando banho de bermuda, tirou a calçola para lavar, colocou na areia para secar e esqueceu. Só lembrou quando chegou em casa e o marido perguntou o motivo de estar descalçolada. Explicou a história. O marido levou a moça para a praia e ficou na balaustrada olhando de longe enquanto ela catava na areia. Se achou não sei. Se não achou deve ter levado porrada. E li no jornal que uma vidente, de nome Mãe Dália. Foi presa pela polícia. Como uma profissional do ramo, que se preza, não viu que seria presa e não se mandou antes? Só na Bahia tudo isso acontece. Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista |