sábado, 1 de dezembro de 2007


Sábado, 01 de Dezembro de 2007  
 
 
Detonando com o saco da gente

   Uns malucos, uns mequetrefes, uns caraí, querem implodir a Fonte Nova. Parecendo médico de interior que não sabe o que fazer com a picada de cobra e sem examinar manda cortar a perna toda que é para não correr risco. Foi assim que aconteceu com Manoel Calazans, lá no Quijingue. Médico novo chegou no posto médico, que não passava de uma tapera onde só tinha gaze, algodão e mertiolate aguado; o prefeito tinha mandado acrescentar álcool 60 graus, um pouco de água não-destilada – tá pensando que a verba pública é para gastar com estas gastanças? – e corante. No mesmo dia Manezinho da Jega, assim que a vítima na verdade era conhecida, chegou correndo que tinha sido mordido por uma jararacussu. Acho que jararacussu se escreve assim, mas nunca tive coragem de chegar pra ela e "bons dias! b`as noite! como vai a senhora dona cobra e com sua licença, poderia me dizer se seu nome é com si ou cê ou cê cedilha ou dois sis?". Melhor deixar como está.
  Voltando ao Manezinho da Jega, que chegou esbaforido e com os pés esfolados de tanto passar no juremal acelerado no lombo da sua companheira Ananás, que era assim que se chamava a jega e eu sei, não de perguntar pra jega, que jega não fala, embora obedeça piamente ao seu dono, quando só com o rabo de olho ele a manda ir para trás do barranco. O doutor olha o homem mais assustado que o picado e pergunta o que está sentindo e ele diz "um grande formigamento na perna, como se estivesse todo cheio de formiga taco-taco".
  O médico olha daqui, olha dali, foi o que me contou uma fofoqueira de plantão, dona Miloca, quando cheguei lá. Tira anestesia da pasta 007 e tasca no homem já pronto para amputar da canela para baixo, quando sinhá Marufa, mulher de da Jega chega com a cobra na mãe e diz:
  - Popará, que a cobra é papa-pinto que não mata ninguém!
  E carregou o marido nas costas; e o médico recém-formado, contratado pelo prefeito ficou tão desmoralizado que pegou o ônibus da Camurugipe e se picou, sem nem deixar rasto. O posto médico nunca mais teve médico que verba pública não é para gastar com estas frivolidades.
  Fiz esta volta olímpica toda que é para dizer que assim que deve de estar querendo fazer o cara que inventou que está na hora de implodir o Estádio Otávio Mangabeira, conhecida na boca do povo como Fonte Nova, porque, os historiadores dizem, antigamente havia ali uma fonte construída pelos portugueses – coisa que não confirmo nem desminto, quem sou eu para duvidar de Hildegardes Viana, de Consuelo Pondé, de Tasso Franco e muito menos de Luiz Eduardo Dórea.
  A quem interessa derrubar a Fonte Nova para gastar dinheiro com empreiteira para fazer um novo? Já ouvi vários arquitetos, inclusive aqueles que haviam chamado a atenção das autoridades, alertando para o perigo bem antes do acontecido, que NÃO PRECISA NÃO. Basta fazer um trabalho de readequação da estrutura. Não é por ser cinquentão que tem de limar. Eu mesmo estou a fazer 55 anos, tenho problemas na estrutura mas acho que uma repaginada resolve. E olha que sempre abusei no uso. Quem quiser que venha me implodir.
   Aí pergunto de novo: a quem interessa construir um novo estádio com o dinheiro público? Se for para privatizar obra e estádio, aí acato e aceito.
   PS: o tal do Marcelo Guimarães deixou uma urucubaca tão grande no Bahia que tudo acontece com o time. Só falta ter de jogar a segundona no Barradão. Vade retro, mormão!


  
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. e-mail: jfk6@uol.com.br

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