quinta-feira, 11 de outubro de 2007


Pan, preconceito e maratona

 

 

 

O final do Pan, que optei por ver via Sportv para não ter de ver (é proposital o rolo neste início de texto, embora eu seja burro mesmo) Galvão Bueno azarando os pobres atletas e tentando incitar a massa à xenofobia contra os argentinos (cadê que ele não foi macho de jogar no ar a galera contra os Estados Unidos, que foram mesmo os algozes dos brasileiros nos jogos?) deveria ter a participação de Lula, mas ele entrou na toca para evitar marola.

Ele não perdeu nada, pois, tirante a vaia que iria levar mais uma vez – tanto que os oradores evitaram tocar em seu nome – não haveria mesmo maior emoção, como não houve. E ainda teve a cara de pau de Fernanda Abreu cantando em ritmo de funk músicas inconvenientes e politicamente incorretas para o local e oportunidade, como "olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é..." ou até mesmo "Maria Sapatão, sapatão, sapatão; de dia é Maria; de noite é João...". A troco de quê não se sabe..

    Isso trouxe à memória que o que valeu mesmo foi a atuação das meninas do futebol. E elas, depois do show de bola, coisa que os rapazes não conseguiram sequer fazer um pouco, pediram que a partir de agora o futebol feminino seja mais respeitado e que parem de achar que menina que joga futebol é macho. Interessante é que no sábado passado um garoto, que participava do programa "Altas Horas", de Serginho Groissman, tinha tomado o microfone para justamente fazer um protesto contra este tipo de preconceito, lembrando que futebol é prática, hoje, entre as garotas de quase todas as escolas brasileiras.

     O jornalista Venâncio Júnior, que está trabalhando em Roraima, me escreveu outro dia, elogiando um texto que fiz aqui sobre as garotas do Colégio António Vieira, que jogam um bolão no Futsal, são bonitas, femininas e bi-campeãs dos Jogos dos Colégios Particulares (Jocopar), uma espécie de Pan, que ocorre todos os anos. É legal ver a disputa e a poesia, com um leve toque do romantismo, que havia antigamente no futebol. As meninas conseguem até mesmo resgatar isto.

    O que os preconceituosos não sabem é que a história do futebol é intrigante, interessante e formada por muitos preconceitos. Quando o futebol começou a ganhar popularidade no início do século passado, a hegemonia esportiva era do remo. No Rio de Janeiro, na lagoa Rodrigo de Freitas, alguns domingos levavam para as disputas entre Flamengo e Fluminense mais de 20 mil pessoas. Os caras malhadões se recusavam a permitir que o futebol adentrasse seus clubes e classificavam o futebol como esporte para mulheres. Veja só, meu único e caro leitor, quanta ironia. Depois que os homens "roubaram" o esporte da mulher, inverteram a situação. Homem não presta. Por isso não gosto de homem.

       Tomara que a história brilhante das meninas da Seleção Brasileira Feminina de Futebol renda alguns frutos em termos de acabar com o preconceito e também o reconhecimento pecuniários. As meninas jogam um bolão aqui, mas para a sobrevivência têm de jogar nos Estados Unidos, Alemanha, França, Holanda e outros países onde os empresários são mais profissionais e mais espertos. Claro que a um bom trabalho de marketing atrai patrocinadores e o público enche os estádios.

     Por falar em Pan, tudo bem que o Brasil ganhou mais de uma centena de medalhas, teve o vôley brilhando, mesmo com o nepotismo de Bernardinho; o basquete dando show, mas (tirando Falcão, do Futsal, que acho o melhor jogador do mundo, comparando até mesmo com o Ronaldinho Gaúcho no futebol de campo – claro que sou exagerado) tanto no Pan como Olimpíada, o espírito dos jogos está encarnado mesmo é na maratona. Correr uma maratona, sim é coisa do Satanás. O resto é refresco. Se bem que eu não gostaria de enfrentar a judoca Ednancy.

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